Eu
tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando
sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei
acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta
passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com
grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito
preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente.
Liguei
baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço.
Perguntaram-me
se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.
Esclareci
que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar,
mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.
Um
minuto depois, liguei de novo e disse com a voz calma:
— Oi,
eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter
pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro de escopeta calibre 12, que tenho
guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!
Passados
menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um
helicóptero, uma unidade do resgate , uma equipe de TV e a turma dos direitos
humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo.
Eles
prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de
assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante
da Polícia.
No meio do tumulto, um tenente se aproximou
de mim e disse:
— Pensei que tivesse dito que tinha matado
o ladrão.
Eu respondi:
— Pensei que tivesse dito que não havia
ninguém disponível.
Luis Fernando Veríssimo - é um escritor, futebolista, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor de teatro e romancista brasileiro. Já foi publicitário e revisor de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Em 2006, Veríssimo chegou aos 70 anos de idade consagrado como um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos, tendo vendido ao todo mais de 5 milhões de exemplares de seus livros.
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