A Srª Jorge B. Xavier simplesmente não
saberia dizer como entrara. Por algum portão principal não fora. Pareceu-lhe
vagamente sonhadora, ter entrado por uma espécie de estreita abertura em meio
a escombros de construção, como se tivesse entrado de esguelha por um buraco
feito só para ela. O fato é que quando viu já estava dentro.
E quando viu percebeu que estava
muito, muito dentro. Andava interminavelmente pelos subterrâneos do Estádio
de Futebol do Maracanã, ou, pelo menos, pareceram-lhe cavernas estreitas que
davam para salas fechadas, e quando se abriam as salas só havia janelas que
davam para o estádio. Este, àquela hora torradamente deserto, reverberava ao
extremo sol dum calor inusitado que estava acontecendo naquele dia de pleno
inverno.
Então a senhora seguiu por um corredor
sombrio. Este a levou igualmente a outro mais sombrio. Pareceu-lhe que o teto
dos subterrâneos era baixo.
E aí este corredor a levou a outro que
a levou por sua vez a outros.
Dobrou o corredor deserto. E aí em
outra esquina.
Então continuou automaticamente a
entrar pelos corredores que sempre davam para outros corredores. Onde seria a
sala da aula inaugural? Pois junto desta encontraria as pessoas com quem
marcara o encontro. A conferência era capaz de já ter começado. Ia perdê-la,
ela que se forçava a não perder nada de cultural porque assim se mantinha
jovem por dentro, já que até por fora ninguém adivinhava que tinha quase
setenta anos, todos lhe davam uns cinqüenta e sete.
Mas agora, perdida nos meandros
internos e escuros do Maracanã, a senhora já arrastava pés pesados de velha.
Foi então que subitamente encontrou
num corredor um homem surgido do nada, e perguntou-lhe pela conferência que o
homem que também surgira repentinamente ao dobrar o corredor.
Então este segundo homem informou que
havia visto perto da arquibancada da direita, em pleno estádio aberto, “duas
damas e um cavalheiro, uma de vermelho”. A Srª Xavier tinha dúvida de que
essas pessoas fossem o grupo com quem devia se encontrar antes da
conferência, e na verdade já perdera de vista o motivo pelo qual caminhava
sem nunca mais parar. De qualquer modo seguiu o homem para o estádio, onde
parou ofuscada pelo espaço oco de luz escancarada e de mudez aberta, o
estádio nu desventrado, sem bola nem futebol. Sobretudo sem multidão. Havia
uma multidão que existia pelo vazio de sua ausência absoluta.
As duas damas e o cavalheiro já haviam
sumido por algum corredor?
Então o homem disse com desafio
exagerado: “Pois vou procurar para a senhora e vou encontrar de qualquer
jeito essa gente, eles não podem ter sumido no ar”.
E de fato de muito longe ambos os
viram. Mas um segundo depois tornaram a desaparecer. Parecia um jogo infantil
onde gargalhadas amordaçadas riam da Srª Jorge B. Xavier.
Então entrou com o homem por outros
corredores. Aí este homem também sumiu numa esquina.
A senhora já desistira da conferência,
que no fundo pouco lhe importava. Contanto que saísse daquele emaranhado de
caminhos sem fim. Não haveria porta de saída? Então sentiu como se estivesse
dentro dum elevador enguiçado entre um andar e outro. Não haveria porta de
saída?
E eis que subitamente lembrou-se das
palavras de informação da amiga pelo telefone: “Fica mais ou menos perto do
Estádio do Maracanã”. Diante dessa lembrança estendeu o seu engano de pessoa
avoada e distraída que só ouvia as coisas pela metade, a outra ficando
submersa. A Srª Xavier era muito desatenta. Então, pois, não era no Maracanã
o encontro, era apenas perto dali. No entanto o seu pequeno destino quisera-a
perdida no labirinto.
Sim, então a luta recomeçou pior
ainda: queria por força sair de lá e não sabia como nem por onde. E de novo
apareceu no corredor aquele homem que procurava as pessoas e que de novo lhe
garantiu que as acharia porque não podiam ter sumido no ar. Ele disse assim
mesmo:
– As pessoas não podem ter sumido no
ar!
A senhora informou:
– Não precisa mais se incomodar de
procurar, sim? muito obrigado, sim? porque o lugar onde preciso encontrar as
pessoas não é no Maracanã.
O homem parou imediatamente de andar
para olhá-la perplexo:
– Então que é que a senhora está
fazendo aqui?
Ela quis explicar que sua vida era
assim mesmo, mas nem sequer sabia o que queria dizer com o “assim mesmo” nem
com “sua vida”, por isso nada respondeu. O homem insistiu na pergunta, entre
desconfiado e cauteloso: “Que é que ela estava fazendo ali?” Nada, respondeu
apenas em pensamento a senhora, já então pressentes a cair de cansaço. Mas
não lhe respondeu, deixou-o pensar que era louca. Além do mais ela nunca se
explicava. Sabia que o homem a julgava louca – e quem dissera que não? Se bem
que soubesse ter a chamada saúde mental tão boa que só podia se comparar com
sua saúde física. Saúde física já agora rebentada, pois rastejava os pés de
muitos anos de caminho pelo labirinto. Sua via-crucis. Estava vestida de lã
muito grossa e sufocava suada ao inesperado calor dum auge de verão, esse dia
de verão que era um aleijão do inverno. As pernas lhe doíam, doíam ao peso da
velha cruz. Já se resignara dalgum modo a nunca mais sair do Maracanã e a
morrer ali de coração exangue.
Então, e como sempre, era só depois de
desistir das coisas desejadas que elas aconteciam. O que lhe ocorreu de
repente foi uma idéia: “Mas que velha maluca eu sou”. Em vez de continuar a
perguntar pelas pessoas que não estavam lá, porque não procurava o homem e
indagava como se saía dos corredores? Pois o que queria era apenas sair e não
encontrar-se com ninguém.
Achou finalmente o homem, ao dobrar
duma esquina. E falou-lhe com voz um pouco trêmula e rouca, por cansaço e
medo de ter vã esperança. O homem desconfiado concordou mais do que depressa
que era melhor mesmo que ela fosse embora para casa e disse-lhe com cuidado: “A
senhora parece que não está muito bem da cabeça, talvez seja este calor
esquisito”.
Dito isto, entrou com ela no primeiro
corredor e na esquina avistavam-se os dois largos portões abertos. Apenas
assim? Tão fácil assim? Apenas assim.
Então a senhora pensou sem nada
concluir que só para ela é que se havia tornado impossível achar a saída. A
Srª Xavier estava apenas um pouco espantada e ao mesmo tempo habituada. Na
certa, cada um tinha o próprio caminho a percorrer interminavelmente, fazendo
isto parte do destino, no qual ela não sabia se acreditava ou não.
E havia o táxi passando. Mandou-o
parar e disse-lhe, controlando a voz que estava cada vez mais velha e
cansada:
– Moço, não sei bem o endereço,
esqueci. Mas o que sei é que a casa fica numa rua-não-me-lembro-mais-o-quê
mas que fala em “Gusmão” e faz esquina com uma rua se não me engano chamada
Coronel-não-sei-quê.
O chofer foi paciente como com uma
criança: “Pois então não se afobe, vamos procurar calmamente uma rua que
tenha Gusmão no meio e Coronel no fim”, disse virando-se para trás num
sorriso, e aí piscou-lhe um olho de conivência que parecia indecente.
Partiram aos solavancos que lhe sacudiam as entranhas.
Então de repente reconheceu as pessoas
que procurava e que se achavam na calçada defronte duma casa grande. Era
porém como se a finalidade fosse chegar e não a de ouvir a palestra que a
essa hora estava totalmente esquecida, pois a Srª Xavier se perdera do seu
objetivo. E não sabia em nome de que caminhara tanto. Então viu que se
cansara para além das próprias forças e quis ir embora, a conferência era um
pesadelo. Pediu a uma senhora importante e vagamente conhecida e que tinha
carro com chofer para levá-la para casa, porque não estava se sentindo bem
com o calor estranho. O chofer só viria daí a uma hora. Então a Srª Xavier
sentou-se numa cadeira que tinham posto para ela no corredor, sentou-se
empertigada na sua cinta apertada, fora da cultura que se processava defronte
na sala fechada. Donde não se ouvia som algum. Pouco lhe importava a cultura.
E ali estava nos labirintos de sessenta segundos e de sessenta minutos que a
encaminhariam a uma hora.
Então a senhora importante veio e
disse assim: que a condução estava à porta mas que lhe afirmava que, como o
motorista avisara que ia demorar muito, em vista de a senhora não estar
passando bem, mandara parar o primeiro táxi que vira. Porque a Srª Xavier não
tivera ela própria a idéia de chamar um táxi, se submetera aos meandros do
tempo de espera. Então agradeceu ao motorista com extrema delicadeza. A
senhora era sempre muito delicada e educada. Entrou no táxi e disse:
– Leblon, por obséquio.
Tinha o cérebro oco, parecia-lhe que
sua cabeça estava em jejum.
Daí a pouco notou que rodavam e
rodavam mas que de novo ter minavam por voltar a uma mesma praça. Porque não
saíam de lá? Não havia de novo caminho de saída? O motorista acabou
confessando que não conhecia a Zona Sul, que só trabalhava na Zona Norte. Ela
não sabia como ensinar-lhe o caminho. Cada vez mais a cruz dos anos
pesava-lhe e a nova falta de saída apenas renovava a magia negra dos
corredores do Maracanã. Não havia meio de se livrarem da praça? Então o
motorista disse-lhe que tomasse outro táxi, e chegou mesmo a fazer sinal para
que passara ao lado. Ela agradeceu comedidamente, fazia cerimônia com as
pessoas, mesmo com as conhecidas. Além do que era muito gentil. No novo táxi
disse a medo:
– Se o senhor não se incomodar, vamos
para o Leblon.
E simplesmente saíram logo da praça e
entraram por novas ruas.
Foi ao abrir com a chave a porta do
apartamento que teve vontade apenas mental e fantasiada de soluçar bem alto.
Mas ela não era de soluçar nem de reclamar. De passagem avisou à empregada
que não atenderia telefonemas. Foi direto ao quarto, tirou toda a roupa,
engoliu sem água uma pílula e esperou que esta desse resultado.
Enquanto isso, fumava. Lembrou-se de que era mês de agosto, dava azar. Mas setembro viria um dia como porta de saída. E setembro era por algum motivo o mês de maio: um mês mais leve e mais transparente. Foi vagamente pensando nisso que a sonolência finalmente veio e ela adormeceu. Quando acordou, horas depois, viu que chovia uma chuva fina e gelada, fazia um frio de lâmina de faca. Nua na cama, ela enregelava. Então achou muito curioso ser uma velha nua. Lembrou-se de que planejara comprar uma écharpe de lã. Olhou o relógio: ainda encontraria o comércio aberto. Tomou um táxi e disse:
– Ipanema, por obséquio.
O homem disse:
– Como é que é? É para o Jardim
Botânico?
– Ipanema, por favor – repetiu a
senhora, bastante surpreendida. Era o absurdo do desencontro total: pois que
havia em comum entre as palavras Ipanema e Jardim Botânico? Mas de novo
pensou vagamente que “era assim mesmo a sua vida”.
Fez rapidamente a compra e viu-se na
rua já escurecida sem ter que fazer. Pois o Sr. Jorge B. Xavier viajara para
São Paulo no dia anterior e só voltaria no dia seguinte.
Então, de novo em casa, entre tomar
nova pílula para dormir ou fazer alguma outra coisa, optou pela segunda
hipótese, pois lembrou-se de que agora poderia voltar a procurar a letra de
câmbio perdida. O pouco que entendia era que aquele papel representava
dinheiro. Há dois dias procurara minuciosamente pela casa toda, e até pela
cozinha, mas em vão. Agora lhe ocorria: e por que não debaixo da cama?
Talvez. Ajoelhou-se no chão. Mas logo cansou-se de só estar apoiada nos
joelhos e apoiou-se também nas duas mãos.
Então percebeu que estava de quatro.
Assim ficou um tempo, talvez
meditativa, talvez não. Quem sabe, a Srª estivesse cansada de ser um ente
humano. Estava sendo uma cadela de quatro. Sem nobreza nenhuma. Perdida a
altivez última. De quatro, um pouco pensativa talvez. Mas debaixo da cama só
havia poeira.
Levantou-se com bastante esforço das
juntas desarticuladas e viu que nada mais havia a fazer senão considerar com
realismo – e era com um esforço penoso que via a realidade – considerar com
realismo que a letra estava perdida e que continuar a procurá-la seria nunca
sair do Maracanã.
E, como sempre, já que desistira de
procurar, ao abrir a gavetinha de lenços para tirar um – lá estava a letra de
câmbio.
Então a senhora, cansada pelo esforço
de ter ficado de quatro, sentou-se na cama e começou muito à toa a chorar de
manso. Parecia mais uma lengalenga árabe. Há trinta anos não chorava, mas
agora estava tão cansada. Se é que aquilo era choro. Não era. Era alguma
coisa. Finalmente, assoou o nariz. Então pensou o seguinte: que ela forçaria
o “destino” e teria um destino maior. Com força de vontade se consegue tudo,
pensou sem a menor convicção. E isso de estar presa a um destino ocorrera-lhe
porque já começara sem querer a pensar em “aquilo”.
Aconteceu então que a senhora também
pensou o seguinte: era tarde demais para ter um destino. Pensou que bem faria
qualquer tipo de permuta com outro ser. Mas lhe ocorreu que não havia com
quem se permutar: quem quer que fosse, ela era ela e não podia se transformar
em outra única. Cada um era único. A Srª Jorge B. Xavier também era.
Mas tudo o que lhe acontecera ainda
era preferível a sentir “aquilo”. E eis que de repente “aquilo” veio com seus
longos corredores sem saída. E sem o menor pudor, “aquilo” era a fome
dolorosa de suas entranhas, fome de ser possuída pelo inalcançável ídolo de
televisão. Não perdia um só programa dele. Então, já que não pudera se
impedir de pensar nele, o jeito era deixar-se pensar e relembrar o rosto de
menina-moça do cantor Roberto Carlos, meu amor.
Foi lavar as mãos sujas de poeira e
viu-se no espelho da pia. Então a Srª Xavier pensou assim: “Se eu quiser
muito, mas muito mesmo, ele será meu por ao menos uma noite”. Acreditava
vagamente na força de vontade. De novo se emaranhou no desejo, que era
retorcido e estrangulado.
Mas, quem sabe?, se desistisse de
Roberto Carlos, então é que as coisas entre ele e ela aconteceriam. A Srª
Xavier meditou um pouco sobre o assunto. Então espertamente fingiu que
desistia de Roberto Carlos. Mas bem sabia que a desistência mágica só dava resultados
positivos quando era real, e não apenas um truque como modo de conseguir. A
realidade exigira muito da senhora. Examinou-se ao espelho para ver se o
rosto se tornara bestial sob a influência de seus sentimentos. Mas era um
rosto quieto que já deixara há muito de representar o que sentia. Aliás, seu
rosto nunca exprimira senão boa educação. E agora era apenas a máscara duma
mulher de setenta anos. Sua cara levemente maquilhada pareceu-lhe e dum
palhaço. A senhora forçou sem vontade um sorriso para ver se melhorava. Não
melhorou.
Por fora – viu no espelho – ela era
uma coisa seca como um figo seco. Mas por dentro não era estorricada. Pelo
contrário. Parecia por dentro uma gengiva úmida, mole assim como gengiva
desdentada.
Então procurou um pensamento que a
espiritualizasse ou que a estorricasse de vez. Mas nunca fora espiritual. E
por causa de Roberto Carlos a senhora estava envolta nas trevas da matéria,
onde ela era profundamente anônima.
De pé no banheiro era tão anônima
quanto uma galinha.
Numa fração de fugitivo segundo quase
inconsciente, vislumbrou quase todas as pessoas anônimas. Porque ninguém é o
outro e outro não conhecia o outro. Então – então a pessoa é anônima. E agora
estava emaranhada naquele poço fundo e mortal, na revolução do corpo. Corpo
cujo fundo não se via e que ra a escuridão das trevas malignas de seus
instintos vivos como lagartos e ratos. E tudo fora de época, fruto fora de
estação? Por que nunca lhe tinham avisado as outras velhas que até o fim isso
podia acontecer? Nos homens velhos bem vira olhares lúbricos. Mas nas velhas
não. Fora de estação. E ela viva como se ainda fosse alguém, ela que não era
ninguém.
A Srª Jorge B. Xavier era ninguém.
Então quis ter sentimentos bonitos e
românticos em relação à delicadeza de rosto de Roberto Carlos. Mas não
conseguiu: a delicadeza dele apenas a levava a um corredor escuro de
sensualidade. E a danação era a lascívia. Era fome baixa: ela queria comer a
boca de Roberto Carlos. Não era romântica, ela era grosseira em matéria de
amor. Ali no banheiro, defronte do espelho da pia.
Com sua idade indelevelmente maculada.
Sem ao menos um pensamento sublime que lhe servisse de leme e que enobrecesse
a sua existência.
Começou a desmanchar o coque dos
cabelos e a penteá-los devagar. Estavam precisando de nova pintura, as raízes
brancas já apareciam. A senhora pensou o seguinte: na minha vida nunca houve
um clímax como nas histórias que se lêem. O clímax era Roberto Carlos.
Meditativa, concluiu que iria morrer secretamente assim como secretamente
vivera. Mas também sabia que toda morte é secreta.
No fundo de sua futura morte imaginou
ver no espelho a figura cobiçada de Roberto Carlos, com aqueles macios
cabelos encaracolados que ele tinha. Ali estava, presa ao desejo fora de
estação assim como o dia de verão em pleno inverno. Presa no emaranhado dos
corredores do Maracanã. Presa ao segredo mortal das velhas. Só que ela não
estava habituada a ter quase setenta anos, faltava-lhe prática e não tinha a
menor experiência.
Então disse algo e bem sozinha:
– Robertinho Carlinhos.
E acrescentou ainda: meu amor. Ouviu
sua voz com estranheza, como se estivesse pela primeira vez fazendo, sem
nenhum pudor ou sentimento de culpa, a confissão que no entanto deveria ser
vergonhosa. A senhora devaneou que era capaz de Robertinho não querer aceitar
o seu amor porque tinha ela própria a consciência de que este amor era muito
piegas, melosamente voluptuoso e guloso. E Roberto Carlos parecia tão casto,
tão assexuado.
Seus lábios levemente pintados ainda
seriam beijáveis? Ou por acaso era nojento beijar boca de velha? Examinou bem
de perto e inexpressivamente os próprios lábios. E ainda inexpressivamente
cantou o estribilho da canção mais famosa de Roberto Carlos: “Quero eu você
me aqueça neste inverno e que tudo o mais vá para o inferno”.
Foi então que a Srª Jorge B. Xavier
bruscamente dobrou-se sobre a pia como se fosse vomitar as vísceras e
interrompeu sua vida com uma mudez estraçalhante: tem! que! haver! uma!
porta! de saííííííída!
Clarice Lispector
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